sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Meu jardim sem muro (de Alma Welt)

Meus avós escolheram esta estância
Por estar pouco além do fim do mundo
E também se situar depois da ânsia,
Que alguma alma tem, de ir mais fundo.

Mas foi em vão: juntei-me com o vento
Malgrado a ameaça galhofeira
De "evitar más companhias, ou convento",
Que meus avós fizeram, de primeira.

Saí a correr e a girar, braços abertos,
Pois se erguiam meus sentidos, já despertos,
Assim que mal pisei no chão florido...

E meu olhar ia e voltava do horizonte
Como quem só foi buscar água na fonte:
Já não havia meu muro proibido... *

.
29/09/2017


Nota
* Já não havia meu muro proibido - Alma está fazendo alusão a um episódio de sua infância, ainda em Novo Hamburgo, que ela narrou em um conto encantador intitulado "Nosso muro proibido", e que se encontra no seu blog A prosa de Alma Welt.

domingo, 24 de setembro de 2017

Versos gaudérios (de Alma Welt)

"A boa poesia é um farol na escuridão
E não um simples jogo de versinhos."
Assim dizia o meu pai abrindo vinhos
Nas nossas festas de casa e de galpão.

Ele gostava de declamar sonetos,
O que aos gaúchos causava estranheza
Pois preferiam os versos de proeza,
De bomba e cuia, churrasco nos espetos...

Também os versos gaudérios de peleia
De gaúchos de pala e montaria
Que o nosso imaginário ainda permeia.

E eu, suspensa entre um e outro sonho,
Percebi que a nenhum eu trairia
Se ouvisse o coração quando componho...

.
24/09/2017

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

O Guará (de Alma Welt)

Na natureza estar em plenitude,
Pra mim já não comporta crueldade
E proibi a caça enquanto pude
Por milhas em torno desta herdade.

Mas então nos visitou um guará (lobo),
Que de uma ovelha fez a sua presa,
E acusavam-no os peões logo de roubo,
Pasmem, cobrando moral da natureza.

Então melodramática e até por rima,
Aos gáltchos com suas facas e garrucha
Eu disse: "Do meu corpo só por cima!"

E a gargalhada dos peões fechou o ato.
Cai o pano, mas não como fria ducha:
Todos riam e o guará ganhou o mato.
.
18/09/2017