sábado, 14 de junho de 2014

Recordações II (de Alma Welt)


Se uma guitarra soava na coxilha
Eu me punha alvoroçada, era guria,
Do piano de meu pai eu era a filha
Mas qualquer paixão me divertia...

E eu corria saltando pelas trilhas
Até encontrar o tal gaudério,
Para convidá-lo a um refrigério,
Que por certo cavalgara muitas milhas.

E com a chaleira chiando num tripé,
Tome charla, milonga e chamamé,
De noite na fogueira sob a lua...

E eu pensava que o mundo ali estava
E que nada do que importa me faltava,
Que a vida era bela e estava nua...

domingo, 25 de maio de 2014

Charla gaudéria (de Alma Welt)


Necessitamos pesar bem as palavras
Pois que elas são o rastro que deixamos
Para que não deixem como as cabras...
Tão vazias suas trilhas e seus ramos.


Sejam as nossas palavras as sementes,
Raízes ou florida beira-estrada
Que bonita impressão deixa nas mentes,
Tesouros vagos que a memória guarda...

Um calão ou dois por ano se permite
Para que fiquemos insuspeitos
Do nariz empinado de uma elite.

Mas se isso deixa a vida muito séria
Colocando oprimidos nossos peitos,
Seja vulgata meu latim: charla gaudéria...

sábado, 3 de maio de 2014

De volta à terra (Alma Welt)


         O pampa de Alma Welt - tela de Guilherme de Faria

De volta à terra (Alma Welt)

Voltar a minha estância eu bem queria
Quando tiver que “ir daqui para melhor”,
Pois não desejo nada mais do que eu via
Quando ao chegar lancei os olhos ao redor...

Quê me importa o paraíso ou o Éden,
Com os anjos que tangem as suas harpas,
Entre as nuvens altas que não cedem,
Se sou como Prometeu entre as escarpas?

Meu Pampa é minha Terra Prometida,
Eu sei porque o senti no coração
Quando uma vez a vi quase perdida...

Senhor, lançai-me de cabeça, pelos pés,
De volta à minha terra, neste chão,
Nem que seja pra calar-me de uma vez...