quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O sonho (de Alma Welt)


 
 
 
Sonhei que ainda guria cheguei perto,
De conhecer um outro ser humano.
Era no Pampa o meu sonho desperto

E eu jogava truco com meu mano...
 

A coxilha transmutou-se em Paraíso
Com um umbu no centro e tudo mais;

A gente se apalpava em desaviso
Sem dar conta que nos via o Capataz


Que logo surpreendeu-nos em flagrante
Agarrando-nos os cabelos e o pulso,

Não lhe faltando a lança e o berrante.

E vi que a gauchada em torno ria
Gerando ali meu estro e meu impulso

De amar e perdoar tudo o que eu via...





 

domingo, 8 de julho de 2012

A Herdeira do Minuano (de Alma Welt)

 
Entre os ventos que melhor conheço,
O vento Norte, o Oeste e o Minuano
Deste último o pânico padeço
Pois sei que me espreita ano a ano.

Ele virá me buscar, eu o pressinto,
Pois ouvi a sua voz dentro das noites
Que dizia: “Minha Alma, não te acoites
Se teu vinho não sou, mas absinto...”

“Levar-te-ei comigo em minha sela
Pela coxilha que conheço e que amas,
Mas pra ti não haverá nenhuma vela.”

“Varemos esta escuridão pampeira
Pelos campos e estradas, relvas, lamas,
E serás minha rainha e minha herdeira...”
 

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Tempo Vento (de Alma Welt)

Gaucho- pintura de Juan Manuel Blanes


Tempo Vento (de Alma Welt)

O tempo em ninharias despendido,
Em gaudérias peleias e desmando
Nos será cobrado ou repreendido
Pela alma vigilante em seu comando.

Tempo esse que nos estertores volta
Na forma de remorsos ou vergonha,
Em suspiros que o moribundo solta
A cabeça pousada sobre a fronha.

Que não mais se erguerá, embora tente,
Como é dado ao gaúcho que cochila,
Não se puxa mais a rédea, de repente,

Trilhando, à noite, a passo este bagual,
Pois não temos como retornar à fila
Se já perdemos o lugar em Portugal...

terça-feira, 20 de março de 2012

Ecos no Casarão (de Alma Welt)

Vê, senhor, bem lá adiante o casarão
Que reina na coxilha há três séculos
E em que hoje após a ceia e no serão
Começarás a ouvir antigos ecos,

Que previno, podem nos dar arrepios
Pois os choros e suspiros tão pungentes
Nos vem como os ventos e os rios
Da escuridão de tempos inclementes.

São vestígios das dores das batalhas,
Dos bravos farroupilhas as lindas prendas
Deplorando a derrota e suas malhas,

Também o pranto e os suspiros de paixão
De Anita a maior das nossas lendas
Que na Itália aconteceu voltar ao chão...