sábado, 30 de maio de 2009

Largo al Factotum* (de Alma Welt)

Galdério, factotum desta estância,
Filho dileto da banda oriental*
Do Pampa e de sua circunstância*
Com sua fala um tanto gutural

Tem como uma espécie de mistério
O nome que, entre nós, ele detesta
Por ser ele confundido com gaudério*
Embora não ostente em sua testa

Pois é gaucho do trabalho como poucos
E apesar do desrespeito inicial
Impôs-se com rigor e brados roucos

Pois, irmão mais esperto da Matilde,
Tornou-se o paladino de um graal*:
Alma viva, nem Rosina, nem Brunhilde...*

(sem data)

Notas

Acabo de encontrar este curioso soneto inédito na Arca da Alma, que faz uma homenagem ao nosso administrador, charreteiro, motorista, emfim, o "faz-tudo" aqui da nossa estância desde que éramos piás, e sua irmã, a nossa querida Matilde, nossa babá.

* Largo al Factotum- título da famosíssima ária da ópera O Barbeiro de Sevilha, de Gioacchino Rossini. A expressão significa : "Abram alas ao Faz-tudo"

*banda oriental- o Uruguay

*Pampa e sua circunstância- Trocadilho com a famosa Pompa e Circunstância , obra orquestral solene de Edward Elgar

*gaudério- expressão gauchesca que designa um tipo sem eira nem beira, fanfarrão, vagabundo e jogador de truco. Às vezes os gaúchos assim se referem jocosamente uns aos outros. Nosso administrador e fiel amigo Galdério não gosta de ter seu nome (com l) assim confundido por galhofa.

* gaucho- assim, sem acento é como o próprio Galdério, que é uruguaio, se auto-designa e aos otros peões. Pronuncia-se "gáltcho".

* paladino de um graal- A fidelidade e dedicação do Galdério à nossa Alma o tornaram um verdadeiro "chevalier-servant", ou cavaleiro andante da sua amada "patroinha" que é para ele um graal, isto é, sagrada...

* Alma viva, nem Rosina nem, Brunhilde... - curioso verso que alude ao personagem do conde Almaviva, que é apaixonado por Rosina no O Barbeiro de Sevilha e adota o nome de Lindauro para se apresentar ao tutor dela, Bartolo, que a mantém prisioneira e quer casar-se ele próprio com a sua tutelada, por dinheiro. Com a ajuda de Fígaro, o barbeiro "faz-tudo" que aí se torna alcoviteiro, o conde Almaviva conseguirá no final casar-se com sua amada. Quanto à Brunhilde, essa é personagem do Anel dos Nibelungos, a grande saga germânica da ópera de Richard Wagner. Alma quis dizer que ela não está nem para a heroína burlesca de Rossini, nem para a solene walkíria Brunhilde de um Wagner da ascendência germânica dos Welt, mas mais para uma "Alma viva", ela mesma, poetisa-heroína do nosso pampa. (Lucia Welt)
Postado por Lúcia Welt às 13:57 0 comentários Links para esta postagem

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