terça-feira, 31 de agosto de 2010

Raízes e metáforas (de Alma Welt)

Estar em sintonia com a Vida
Que pulsa ao meu redor na natureza
É algo necessário, com certeza,
Pra que poeta seja e logo lida.

Pois se sonhos cultivasse longe disso,
Querer seria lançar ecos e raízes
No passar do vento e o rebuliço
De meus pequenos erros e deslizes...

Mas sentir meus pés no mesmo chão
Que acolheu aquela Anita como filha,*
Após subir a bordo de um lanchão,*

Não cânfora de um Vate lá de fora,*
Mas consagrando o mar desta coxilha,
Antes pura metáfora na aurora...

26/04/2006

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A Druidisa (de Alma Welt)

Sacralizar a vida, redundância,
Que sagrada é e por princípio,
Reitero-o no âmbito da estância
Desde cândida guria neste sítio,*

Aos oito vinda daquele novo burgo *
Que já fora belo e mais germânico,
Quando o Vati, como bardo, demiurgo*
Pra cá nos trasladou sem nenhum pânico.

Fui infanta, sou princesa e druidisa
Só não colhendo o visgo dos carvalhos,
Que aqui são do umbu os grandes galhos...

Mas a herança dos mortos permanece
Na coxilha que a guerra não esquece
Seus farrapos ondulando pela brisa...*

Notas
*...neste sítio- Com "sítio", aqui, Alma quer dizer simplesmente "lugar".

*...novo burgo- Alma se refere a Novo Hamburgo, a cujo caminho nasceu na estrada e onde viveu até os oito anos. A cidade às vezes é chamada de Hamburgo Velho (pelos moradores muito velhos) em referência ao seu passado de colônia alemã.

* ...o Vati, como bardo, demiurgo...- "bardo", esta rica palavra que quando escrita com maiúscula se refere aos poetas celtas antigos, como aqui está escrita com minúscula está se referindo a uma espécie de curral mutável, onde ficam de noite as ovelhas para estercar a terra. Alma que dizer que o Vati (papai, em alemão, pr. Fáti) como um demiurgo (um deus criador) nos trasladou para a estância como um pequeno curral mutável, de ovelhas.

*...druidisa - Os druidas e as druidisas, sacerdotes e sacerdotisas dos celtas, colhiam com a foice de ouro o visgo dos ramos dos carvalhos para fazer uma poção mágica que lhes dava força e longevidade.

*Seus farrapos ondulando pela brisa...- Alma se refere às lembranças da Guerra dos Farrapos.
(Lucia Welt)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Manhãs de minha estância (de Alma Welt)

Tão belas manhãs de minha estância!
Estão dentro de mim, por isso belas,
Porque nunca lhes falta substância,
Que eu sempre sentiria falta delas

No exílio, em terras de além mar
Ou mesmo somente um pouco ao norte
Onde cessam as carícias ao olhar
Que se torna avaro ou sofre um corte

E não pode voar a extremos pagos
Como o pingo em disparada na coxilha
Ou os gestos do peão em grandes rasgos

De orgulho, entusiasmo e afeição
Enquanto em trote bravateia pela trilha
A me escoltar de volta ao casarão...

06/04/2006

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Vigília espectral (de Alma Welt)

No silêncio crepitante da candeia
Recebo estancieiros de outra era,
Que comigo vêm plantar à meia
Sua seara de sonhos e de espera.

E eu os acolho em minha vigília,
Cavalhada espectral e exangue
A formar imensa teia na coxilha,
Penélope de mágoas e de sangue.

Quem espera essa tropa de farrapos,
Contrastando com os tais engalanados
Neste plaino abandonado pelos sapos?

Don Sebastião não seja, mas o Bento,
Canabarro e Netto, os três montados,
Anita e Pepe no turbilhão do vento...

08/07/2004

Divagação (de Alma Welt)

Por vezes me sinto envergonhada
De divagar assim mais do que a média,
E ter tantos privilégios, e por nada,
Mormente ao ver tanta tragédia

No mundo lá fora, ou mesmo aqui,
Neste pampa que não é uma redoma
Mas cenário de guerras num bioma
Onde viveu outrora o guarani

Que sofreu carregando tanta pedra
Em nome de um Deus de muito longe,
Um tanto parecido com um monge,

Mas que nos comovia o coração
Pela extrema brandura do sermão
Do grão que cai na terra, morre e medra...

(sem data)