segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Inconfidências do meu jardim (de Alma Welt)

Cada flor é um poema, sim, latente,
Com seus disfarces e segredos.
Muito cedo tornei-me confidente
Do meu velho jardim de enganos ledos.

Ele viu as decantadas maravilhas,
E as rosas, mais velhas, indiscretas
Contam casos amorosos farroupilhas
Das donzelas e das paixões secretas

Que nutriam por heróis esfarrapados
Que morreram com os nomes seus nos lábios,
Ou de jovens marinheiros importados

Que nos seus lanchões, anfíbias naus,
As tinham como doces astrolábios
Navegando em esperanças rumo ao caos...

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

A Fala do Trono (de Alma Welt)

O peão aproximou-se da varanda
E tocou o chapéu na aba chata,
Mal saudando como o respeito manda,
Meu pai, que desaforo não acata.

Disse:"Buenas, patrão, venho de longe,
Só não tiro o chapéu, que estou suado,
Que não tenho a tonsura de um monge
E meu cabelo está meio emplastado."

O meu pai achou graça e interrompeu:
"Quê diabo de peão raro, vaidoso!
Preciso, sim de um prosador verboso

Que conte histórias em fogo de chaleira
Para quem cavalgou mais do que eu,
Que agora rejo aqui desta cadeira..."
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06/10/2017
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