quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Noites do casarão (de Alma Welt)

Minhas noites aqui neste casarão
Há muito já não me trazem paz,
As correntes arrastando pelo chão
Ou coisas que o valham, lá de trás,

Ais, sussurros, alaridos e patadas
Povoam desde o sótão ao porão
De vultos e memórias assombradas
A casa decadente, em profusão.

Mas eu tolero tudo isso por amor
Da sombra forte e doce da heroína
Que me honra repartindo a sua dor,

Anita, que eu espero na fronteira
Valhacouto da amiga derradeira
Entre a vigília e o reino da morfina...


(sem data)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Os adeuses do Pampa (Alma Welt)

As constantes lições da Mãe Natura,
Aqui são, eu o sinto, as mais sutis,
Neste Pampa que nos trata com brandura
Mas não tolera os covardes e servis.

Eis por que o gaúcho é altaneiro
Pois a coxilha misteriosa seleciona
Aqueles que ela acolhe por inteiro
E insere em seu fantástico bioma

Que inclui os espectros e os deuses,
Se quiseres entender sua magia
E sua vocação para os adeuses,

Pois devo despedir daquela Anita
Ou do italiano que à luta nos incita,
Se daqui me vou, no trem, desde guria...

(sem data)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Contando sílabas

Viver nesta Pampa sem criar,
Não parecia justo desde o início
Com esta Mãe Natura tão sem par
Que não tolera bem tal desperdício

E conta com meus versos como ventos,
Como aves revoando em alegria,
Com meus solenes passos meio lentos
Ou mancando por andar na pradaria

A contar nos dedos, sem desdouro,
Pra levar pro capataz Alexandrino
Pé-quebrado sem sequer chave de ouro.

E o gaúcho que me vê nesta coxilha
Já não pensa, creio eu, que desatino.
Sorri, cabeceia e segue a trilha...

(sem data)

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Raízes e metáforas (de Alma Welt)

Estar em sintonia com a Vida
Que pulsa ao meu redor na natureza
É algo necessário, com certeza,
Pra que poeta seja e logo lida.

Pois se sonhos cultivasse longe disso,
Querer seria lançar ecos e raízes
No passar do vento e o rebuliço
De meus pequenos erros e deslizes...

Mas sentir meus pés no mesmo chão
Que acolheu aquela Anita como filha,*
Após subir a bordo de um lanchão,*

Não cânfora de um Vate lá de fora,*
Mas consagrando o mar desta coxilha,
Antes pura metáfora na aurora...

26/04/2006

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A Druidisa (de Alma Welt)

Sacralizar a vida, redundância,
Que sagrada é e por princípio,
Reitero-o no âmbito da estância
Desde cândida guria neste sítio,*

Aos oito vinda daquele novo burgo *
Que já fora belo e mais germânico,
Quando o Vati, como bardo, demiurgo*
Pra cá nos trasladou sem nenhum pânico.

Fui infanta, sou princesa e druidisa
Só não colhendo o visgo dos carvalhos,
Que aqui são do umbu os grandes galhos...

Mas a herança dos mortos permanece
Na coxilha que a guerra não esquece
Seus farrapos ondulando pela brisa...*

Notas
*...neste sítio- Com "sítio", aqui, Alma quer dizer simplesmente "lugar".

*...novo burgo- Alma se refere a Novo Hamburgo, a cujo caminho nasceu na estrada e onde viveu até os oito anos. A cidade às vezes é chamada de Hamburgo Velho (pelos moradores muito velhos) em referência ao seu passado de colônia alemã.

* ...o Vati, como bardo, demiurgo...- "bardo", esta rica palavra que quando escrita com maiúscula se refere aos poetas celtas antigos, como aqui está escrita com minúscula está se referindo a uma espécie de curral mutável, onde ficam de noite as ovelhas para estercar a terra. Alma que dizer que o Vati (papai, em alemão, pr. Fáti) como um demiurgo (um deus criador) nos trasladou para a estância como um pequeno curral mutável, de ovelhas.

*...druidisa - Os druidas e as druidisas, sacerdotes e sacerdotisas dos celtas, colhiam com a foice de ouro o visgo dos ramos dos carvalhos para fazer uma poção mágica que lhes dava força e longevidade.

*Seus farrapos ondulando pela brisa...- Alma se refere às lembranças da Guerra dos Farrapos.
(Lucia Welt)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Manhãs de minha estância (de Alma Welt)

Tão belas manhãs de minha estância!
Estão dentro de mim, por isso belas,
Porque nunca lhes falta substância,
Que eu sempre sentiria falta delas

No exílio, em terras de além mar
Ou mesmo somente um pouco ao norte
Onde cessam as carícias ao olhar
Que se torna avaro ou sofre um corte

E não pode voar a extremos pagos
Como o pingo em disparada na coxilha
Ou os gestos do peão em grandes rasgos

De orgulho, entusiasmo e afeição
Enquanto em trote bravateia pela trilha
A me escoltar de volta ao casarão...

06/04/2006

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Vigília espectral (de Alma Welt)

No silêncio crepitante da candeia
Recebo estancieiros de outra era,
Que comigo vêm plantar à meia
Sua seara de sonhos e de espera.

E eu os acolho em minha vigília,
Cavalhada espectral e exangue
A formar imensa teia na coxilha,
Penélope de mágoas e de sangue.

Quem espera essa tropa de farrapos,
Contrastando com os tais engalanados
Neste plaino abandonado pelos sapos?

Don Sebastião não seja, mas o Bento,
Canabarro e Netto, os três montados,
Anita e Pepe no turbilhão do vento...

08/07/2004

Divagação (de Alma Welt)

Por vezes me sinto envergonhada
De divagar assim mais do que a média,
E ter tantos privilégios, e por nada,
Mormente ao ver tanta tragédia

No mundo lá fora, ou mesmo aqui,
Neste pampa que não é uma redoma
Mas cenário de guerras num bioma
Onde viveu outrora o guarani

Que sofreu carregando tanta pedra
Em nome de um Deus de muito longe,
Um tanto parecido com um monge,

Mas que nos comovia o coração
Pela extrema brandura do sermão
Do grão que cai na terra, morre e medra...

(sem data)

domingo, 27 de junho de 2010

A Geada e o Vinhedo ( de Alma Welt)

Galdério acordou-me, hoje bem cedo,
Não para olhar a geada na coxilha
Mas para vigiar nosso vinhedo
Mal protegido dessa dúbia maravilha

Debaixo de uma lona estendida,
Conquanto esteja mais que em perigo,
Talvez perdido mesmo como a vida
Desta tola vinhateira embevecida

Que mais preza o manto de beleza
Descido deste céu azul gelado
Do que uma safra sem grandeza...

Está tudo perdido, há muito eu sei,
Submissa a um destino anunciado:
Depois de mim, o Dilúvio que plantei...


(sem data)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Entre o mate e o verso (de Alma Welt)

Sonetar pra mim tornou-se hábito,
Conto sílabas e rimo a caminhar
Pela coxilha ao largo de onde habito
Ou sobre a relva escura do pomar.

Eis que diante da minha macieira
O soneto tende a um velho rito
E alguma falsa rima de estradeira
Desvanece e dá lugar ao Mito...

Mas onde o verso meu mesmo transcende
Longe do altar dos velhos deuses
É junto ao fogo que o gaúcho acende

Na vigília bravateira do meu mate
Co’as Marias, as Três e seus adeuses,
Sob o olhar do grande, eterno Vate...

(sem data)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

De puro coração (de Alma Welt)

Como eu rodava em baile de galpão!
Eu e Rodo, jovens, tão felizes,
Às vezes cometendo alguns deslizes
Que não devo na frente de peão:

Um beijo daqueles, de querência
Ou um ardente olhar testemunhado
Por bombachas rivais, ali ao lado,
Que nos estranhavam tanta ardência!

E no final uma peleia deslocada,
Pretexto para compensar o espanto
E o desejo pela prenda inalcançada.

E eu, leve, muito solta e... leviana,
A pensar que a vida era um encanto,
Que puro coração jamais se engana...


08/09/2005

sábado, 22 de maio de 2010

Quando a névoa baixa (de Alma Welt)

Quando a névoa baixa na coxilha
Como um mar brumoso de memória
E ao longe emerge como ilha
Uma fronde de umbu em sua glória,

Meus passos perseguem uma trilha,
Que sinto palpitar sob meus pés,
De uma outra adotada como filha
Deste Pampa de batalhas e revés,

Aquela catarina de Laguna,
Que vem ser marinheira de italiano
Nestas ondas macias como duna,

Verde ventre de dois seres oriundos:
Eu, exilada de um seio açoriano,
Ela, heroína de dois mundos...


Notas
*Verde Ventre- o pampa ondulado ou uma engenhosa alusão à "barriga verde", como os gaúchos apelidam depreciativamente os irmãos "catarinas " (catarinenses).

*seio açoriano - Alma era filha de uma catarinense
descendente de açorianos, e nasceu na estrada a caminho de Novo Hamburgo onde passou a primeira infância antes de ser transplantada (aos 8 anos) para o Pampa, na estância dos avós alemães que vindos também de Santa Catarina (vale do Itajaí) , plantaram um vinhedo pioneiro em pleno Pampa.

* heroína de dois mundos
- Giuseppe Garibaldi, tendo lutado na Itália, no Brasil e depois novamente na Itália, foi chamado "o herói de dois mundos". Anita Garibaldi, catarinense, depois gaúcha adotiva, depois da Guerra dos Farrapos foi com Giuseppe quando este voltou para a Itália e lá lutou ao seu lado pela liberdade, lá morrendo . Então Alma a chama também de "heroína de dois mundos". (Lucia Welt)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Os Hóspedes da Noite (de Alma Welt)

Meu casarão respira a gerações
Que remontam a célebres guerreiros
Que de noite ainda vêm, assombrações
De generais e seus mil negros lanceiros.

Bento e Netto, os hóspedes de fama
Sempre vinham planejar e matear,
Enquanto as mulheres... na azáfama,
Falsa rima pro servir e sussurrar.

Pé ante pé, de noite, se esgueiravam
Por corredores, e nas cerradas portas
Colavam seus ouvidos e auscultavam,

Corações em farrapos que sangravam
Pelos dias de agonia e horas mortas
Por aqueles que a guerra tanto amavam...

(sem data)

sábado, 17 de abril de 2010

Perfil da Alma (de Alma Welt)

Oriunda de dois mundos, peregrina
A buscar a Beleza em toda parte
Aqui, onde o vento dobra a esquina
E a vida se confunde com a Arte

E não há mais fronteiras entre as duas,
Que mal as temos com pagos de Castela
Onde Adão foi procurar sua costela
E meteu-se com a saga dos charruas;

Este é o meu reino louco, da Poesia,
Semeada nas silhas da coxilha
Pelos nossos ancestrais em rebeldia.

E misturo num enorme caldeirão
Meus tempos e a Idade Farroupilha
E o proibido amor de meu irmão...

18/08/2006

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A Teiniaguá (de Alma Welt)

Quando à noite meus cães fazem a ronda
E contra a lua principiam a uivar
Como o lobo que vem como uma onda
Dentro deles, que não mais podem calar,

Eu saio como um solitário espectro
Vindo do fundo de forças obscuras
Ou como uma rainha com seu cetro
Na mascarada do reino das loucuras.

E dirá mais de um peão ao me avistar
Que a Teiniaguá desceu do Cerro
Enquanto estavam na coxilha a matear,

Nua, branca, alheia, em despudor
"Corriendo en la pradera como un perro"
A evocar perdidos pactos de amor…


(Sem data)

sábado, 3 de abril de 2010

Caso (de Alma Welt)

Todo esforço é inútil sem amar.
Amor move tudo e torna claro
O ter, fazer, o ser e o desejar,
E o êxito sem ele é nulo ou raro.

Dito isso passo a lhes contar
O caso de um vizinho estancieiro
Que ocultava o ouro no celeiro
De uma vida inteira de poupar.

E a mulher que com ele conviveu
Não soube o que o marido amealhou
Nem mesmo depois que ele morreu.

Então, seu empregado de coxia
Num leilão a propriedade arrematou,
Pois na palha fornicava e se escondia...

(sem data)

segunda-feira, 29 de março de 2010

Meu Negrinho (de Alma Welt)

Quando guria no bosque me perdi,
Estava a colher flores e amoras,
E ouvir ao longe a voz da Mutti
Chamando pra o almoço foram horas

De angústia pelo medo do carão,
Pois esse era talvez o nosso vínculo,
O da mágoa, receio e incompreensão,
Que mais me fazia andar em círculo.

Mas então chamei o meu Negrinho
Que pastoreava sempre ao léu
E assim nem precisava estar no céu.

E juro, meu leitor que então sorriste
Deste soneto pueril ou comezinho:
Ele veio... e era belo, negro e triste.

(sem data)

domingo, 28 de março de 2010

O último fandango (de Alma Welt)

Não me verás jamais dizer assim
Que tudo vai ficar bem ou melhor,
Pois todos caminhamos pro pior
Que é a queda, a morte e o fim.

Mas vivamos e dancemos loucamente
Enquanto não bata a meia-noite
E a aldrava repouse no batente
E o fluir do rio não se afoite.

Amemos e brindemos, companheiro!
Coroemo-nos com folhas do mate
Como os antigos na festas de celeiro...

E se há um deus do Pampa a nos olhar,
Façamos de uma chula o bom combate
Ao longo de uma lança, sem relar...

31/12/2006

segunda-feira, 15 de março de 2010

Crônicas “gáltchas” (de Alma Welt)

Ali jaz um que apartou-se da boiada,
E que se foi de modo deplorável,
Pois ainda não havia feito nada
E seu plano era simples e amável:

Ser o gaucho que se espera e nada mais,
Casar-se com a prenda e ter um filho,
Ter a sua querência e plantar milho,
E não ter que dizer sim ao capataz.

Mas ao campo deu aquela campa,
Nenhum rastro mais de sua raça.
A terra? Bebe sangue e acha graça...

Que por um segundo só, de rebeldia,
Coisa pouca, mormente nesta Pampa,
Foi de peleia o seu derradeiro dia.

07/04/1990

segunda-feira, 8 de março de 2010

Maus vizinhos (de Alma Welt)

Ontem esteve aqui o estancieiro
Que há muito cobiça o meu vinhedo,
Desde que o avô meu, o vinhateiro,
O despachara apontando com o dedo.

Mas, à parte os tais ressentimentos,
Botou-me olho grande, o velho touro,
Para si mesmo, talvez, por uns momentos,
Mas logo para o filho, seu tesouro.

E disse: “Prenda loura, serás nossa,
Como o teu ruivo vinho, eu te prometo.
Prepara o teu vestido e o teu soneto

De bodas, que será o teu derradeiro,
Nem que eu tenha que queimar a tua roça,
E transformar tua Vinha num braseiro...”

12/07/1995


Nota
Acabo de descobrir estre soneto, antigo, da Alma, e me lembro bem deste episódio. Minha irmã viveu momentos de angústia e preocupação por nossa propriedade e sua própria integridade física. E com razão, pois descobri um soneto relacionado que conta um episódio acontecido depois da ameaça desse velho tirano, e que diz respeito justamente ao seu filho, num confronto com a Alma que defendia um velho umbu que ele quis cortar, e que ficava na divisa com as nossas terras :

Estória do umbu-rei (de Alma Welt)
(222)

Por amor a esta paisagem grandiosa
Mais de uma vez empunhei a carabina,
Mas foi um erro o que me fez ficar famosa
E salvar o umbu desta campina.

Foi quando um vizinho me peitou
Dizendo que estava em sua terra
O umbu onde Martinho se enforcou,
Que a árvore era sinistra e que aberra.

Então, melodramática, me amarrei
Ao tronco, disposta a ali morrer,
Com o risco de outra coisa acontecer

Pois fez com que o "gáltcho" gargalhasse
E rasgando meu vestido me mirasse
Dizendo: "Esse umbu agora é rei..."

29/12/2001

Nota
Este episódio, absolutamente verdadeiro, foi bastante mitificado aqui na região e fez a árvore mudar a sua fama. Percebi que a Alma, sob o aparente constrangimento por uma vitória vergonhosa, regosijou-se com o resultado e no fundo admirou a presença de espírito e rude galanteria implícita no gesto do estancieiro vizinho, o "gáltcho" que a desnudou deixando-a amarrada por uns minutos, depois soltando-a e partindo no seu cavalo depois de tocar o seu chapéu com dois dedos. Me recordo ter percebido um período de meditação, suspiros profundos e um ar mais sonhador que de costume em minha irmã, por um tempo depois deste episódio. (Lucia Welt)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Gauchadas (de Alma Welt)

O tenente vinha vindo, sobranceiro,
Montado no seu pingo, muito sério,
E eu que certamente o vi primeiro
Puxei logo a manga do Galdério,

Que já a mão levou a uma pistola
Antiga, de dois canos, sob a faixa,
Enquanto um pensamento, na cachola
Diz: “Bá! Esta coisa não se encaixa

Nos dias de hoje, neste século!”
E que por certo estávamos de volta
E o tempo era outro, ou só espéculo

De nossa passagem no oitocentos,
Quando os farrapos armaram a revolta
Que o Tempo levou com outros ventos...

12/07/2006

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Pelo vento (de Alma Welt)

Aonde foram os amigos tão fiéis
Que alegravam a casa em burburinho
E risos de abundantes decibéis,
E que fariam falta no caminho?

O ressonar já se sente, da Natura,
E não se ouve mais a tal zoada
Dos guris a fazer caricatura
Dos gáutchos de sela e de invernada.

Mas no silêncio que reina, secular,
Posso de novo minh’alma auscultar
E saudar os que agora espectros são.

Anita, Giuseppe, Netto e Bento,
Voltam saudosos pra rever o casarão,
Como farrapos trazidos pelo vento...

17/07/2006

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O gaúcho triste (de Alma Welt)

Um gaúcho triste aqui da estância
Contou-me que perdeu a genitora
Muito cedo, ainda em sua infância
E que isso era a razão de usar espora

E também a chibata em seu cavalo,
E que então não saberia mais montar
Se eu lhe tirasse esse direito ralo
(continuou algum tempo a rezingar).

Então eu perguntei-lhe o que queria
Para deixar de lado esses tormentos
Ao pobre do animal, filho dos ventos...

E à réplica do olhar sem mais rodeios,
A condição implícita que havia,
Rasguei o meu vestido bem nos seios.

(sem data)

Nota
Encantada, acabo de encontrar na Arca da Alma, este soneto inédito, que é uma amostra perfeita de como a minha doce irmã era, e como podia reagir de maneira imprevista e surpreendente, por impulsos de seu generoso coração, quando se tratava de suas mais nobres convicções. (Lucia Welt)

domingo, 10 de janeiro de 2010

A Nova Invernada (de Alma Welt)

Quando a noite é clara, de luar,
Eu me ergo do leito sem demora
E no jardim de antes e de agora
A lua mira esta Alma caminhar,

Muito branca, eu sei, o que assusta
Algum peão desperto aqui da estância
Que logo seu bivaque e o mate susta
E se põe a tremer como na infância.

E se estou antecipando o que farei
Por anos a porfia, eu os previno,
Que pelo amor a esta terra voltarei.

Se lograr com berreiros ou cantada
Dobrar o Capataz nosso, divino,
A coxilha me dará nova invernada...

12/01/2007

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O Tempo suspenso (de Alma Welt)

Não me fales, amor, de um novo ano,
Não o vejo, vês, estou sonhando?
A coxilha corrobora o meu engano,
O próprio Tempo aqui sonha pairando,

Imóvel, suspenso, entorpecido,
A confundir os tempos e as idades,
Por isso este meu Pampa é dolorido
E pleno de guerras e saudades.

Anita veio esta manhã à revelia
Do sapateiro embriagado contumaz
E amor confidenciou-me, de guria,

Por aquele italiano belo e audaz
Que hasteou farrapos, como o Bento,
E no cais espera só soprar o vento...


09/07/2004