sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Reminiscências farroupilhas (de Alma Welt)

Tantas vezes, vagando pelo prado
Eu sinto aquela estranha nostalgia
Desta mesma pradaria em outro fado,
Que esqueci, e que outrora percorria

Num tempo remoto, entre guerreiros
De bombachas e espadas, e lanceiros.
Então penso que na saga farroupilha
Estive mais pra vivandeira do que filha.

Ah! Como eu amava o italiano,
E como admirava a brava Anita!
Por eles fui lá atrás por mais de ano...

Todavia em flashes de memória
Me avisto junto a ele e a favorita,
A contar ao par mais de uma estória...

(sem data)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

“O tempo e o vento” (de Alma Welt)

(para Érico Veríssimo, in memoriam)

Por expressar o pampa, a minha terra,
Raízes fundas lancei de umbu-pampeiro,
Aquele grande da colina, sobranceiro,
(que nada mais me ceifa ou me desterra)...

Eu e a terra temos laços, somos um
E a planura se reflete em minha mirada
A buscar no horizonte como um zoom
A razão de ser poeta e... desvairada.

Mas tudo que me cerca está lançado
Num livro de registros imanente
De sonetos como flores do meu prado.

E se chegar um tempo sem memória,
Estarei plana e vasta em minha mente,
E o minuano há de contar a minha estória

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A queda livre (de Alma Welt)

A montanha subi nada hesitante,
Eu, que venho da terra da planura
E ali tenho a vertigem do rasante
E corro numa espécie de loucura.

Nos prados quero alçar-me e voar
Com o pampeiro e seus abismos
De horizonte e seus ocultos sismos
Que são despenhadeiros do olhar...

E me vi subindo alto, muito alto,
Rumo ao pensamento sempre virgem,
À era em que começou meu salto.

Pois sinto-me viver em despedida,
Espírito que almeja sua origem
Na grande queda livre que é a vida...

25/08/2004

O Sangue do Poeta (de Alma Welt)

Quando guria um tonel eu vi jorrar
O vinho pela relva em catadupas
Quando um peão com outras culpas,
Com o machado rachou-o a gritar:

“Eis de volta o sangue desta terra!
E logo, igualmente, o meu, verão.
Mas antes verterei de um que aberra
E não merece o amargo que lhe dão!”

E naquela tarde houve o embate
Na sinistra colina do enforcado
Mais regada de sangue que de mate.

E eu, que tudo em volta absorvia,
Jurei jorrar por conta do meu fado,
Meu sangue pela vida e a Poesia...

(sem data)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Versejando (de Alma Welt)

Esta ânsia dos versos na guria
Não foi ignorada desde a infância
Pelo povo tolerante desta estância,
Que vê jorrar tal fonte de poesia:

“-Essa prenda põe a fala no tinteiro,
Uma palavra jogada assim a esmo
Vira verso como muda o pampeiro
Em haragano ou minuano mesmo”.

“Por isso tome tento, gauchada!
Na digam tonterías, charla à toa ,
Que o que ela pega... é que revoa.

Mas quando ela recita pr’um gaudério
O amargo se refina, o mate côa,
E tudo fica claro ou... um mistério!”

(sem data)