sexta-feira, 23 de abril de 2010

Os Hóspedes da Noite (de Alma Welt)

Meu casarão respira a gerações
Que remontam a célebres guerreiros
Que de noite ainda vêm, assombrações
De generais e seus mil negros lanceiros.

Bento e Netto, os hóspedes de fama
Sempre vinham planejar e matear,
Enquanto as mulheres... na azáfama,
Falsa rima pro servir e sussurrar.

Pé ante pé, de noite, se esgueiravam
Por corredores, e nas cerradas portas
Colavam seus ouvidos e auscultavam,

Corações em farrapos que sangravam
Pelos dias de agonia e horas mortas
Por aqueles que a guerra tanto amavam...

(sem data)

sábado, 17 de abril de 2010

Perfil da Alma (de Alma Welt)

Oriunda de dois mundos, peregrina
A buscar a Beleza em toda parte
Aqui, onde o vento dobra a esquina
E a vida se confunde com a Arte

E não há mais fronteiras entre as duas,
Que mal as temos com pagos de Castela
Onde Adão foi procurar sua costela
E meteu-se com a saga dos charruas;

Este é o meu reino louco, da Poesia,
Semeada nas silhas da coxilha
Pelos nossos ancestrais em rebeldia.

E misturo num enorme caldeirão
Meus tempos e a Idade Farroupilha
E o proibido amor de meu irmão...

18/08/2006

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A Teiniaguá (de Alma Welt)

Quando à noite meus cães fazem a ronda
E contra a lua principiam a uivar
Como o lobo que vem como uma onda
Dentro deles, que não mais podem calar,

Eu saio como um solitário espectro
Vindo do fundo de forças obscuras
Ou como uma rainha com seu cetro
Na mascarada do reino das loucuras.

E dirá mais de um peão ao me avistar
Que a Teiniaguá desceu do Cerro
Enquanto estavam na coxilha a matear,

Nua, branca, alheia, em despudor
"Corriendo en la pradera como un perro"
A evocar perdidos pactos de amor…


(Sem data)

sábado, 3 de abril de 2010

Caso (de Alma Welt)

Todo esforço é inútil sem amar.
Amor move tudo e torna claro
O ter, fazer, o ser e o desejar,
E o êxito sem ele é nulo ou raro.

Dito isso passo a lhes contar
O caso de um vizinho estancieiro
Que ocultava o ouro no celeiro
De uma vida inteira de poupar.

E a mulher que com ele conviveu
Não soube o que o marido amealhou
Nem mesmo depois que ele morreu.

Então, seu empregado de coxia
Num leilão a propriedade arrematou,
Pois na palha fornicava e se escondia...

(sem data)