segunda-feira, 16 de maio de 2011

No Túmulo do Vati (Alma Welt)



No Túmulo do Vati* (Alma Welt)

O receio de morrer longe do Pampa
Me fez retornar da Paulicéia
Para escolher a minha campa
Onde há de findar minha odisséia

Bem no alto da colina dos avós
Onde estão os velhos vinhateiros,
Joachim, o boche e Frida, pioneiros
Das uvas plantadas nestes pós.

Ali onde estão também os restos
Daquela que eu chamava "Açoriana"*
Co'a distância de meus íntimos protestos.

Mas sobretudo o leito do meu Vati
Simples laje e flores sobre a grama
Com um meu haikai como arremate.


Nota
* Vati - Pronuncia-se Fáti (Papai) diminutivo de Vater (pr. Fáter), pai em alemão). É como a Alma chamava seu pai, Werner Friedrich Welt, que ela adorava. Frequentemente, nos sonetos ela também o chamava de "o Maestro", pois ele era um excelente pianista amador.

* Açoriana- Alma tinteve um relacionamento difícil com sua mãe, Ana Morgado, que não a compreendia e tentava reprimir seus temperamento artístico e seus arroubos. Ana era neta de açorianos, e a Alma se referia a ela assim nos sonetos, como um distanciamente mítico. Isso foi a fonte de um grande sofrimento da poetisa desde a infância, pela vida afora. Na morte elas se perdoaram: há um belo soneto sobre isso.
No Túmulo do Vati* (Alma Welt)